sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Com processos por crime eleitoral em curso, Cássio aceita o risco de acabar prejudicado pelo próprio discurso

Com processos por crime eleitoral em curso, Cássio aceita o risco de acabar prejudicado pelo próprio discurso
Líder do PSDB no Senado Federal, o senador Cássio Cunha Lima ganhou o status de “estrela” dentro do partido e virou figura cativa na imprensa e nos telejornais nacionais por criticar o Governo Dilma e defender abertamente o impeachment da petista. Mas, como todo àquele que ataca, Cássio também tem que estar pronto para o contra ataque.

Com processos na justiça eleitoral, outros correndo em segredo de justiça, além do recebimento de um salário que ultrapassava o piso dos Ministros do Supremo Tribunal Federal – R$ 52 mil/mês - e até uma cassação de mandato em seu currículo, entre outros, o tucano patina em um cenário em que, sendo réu, também quer ser apontado como vítima da corrupção.

Parte da imprensa nacional, por exemplo, tenta desqualificar as denúncias feitas pelo parlamentar, lembrando que o tucano da Paraíba, enquanto defende o impeachment de Dilma, é réu em processos por crime eleitoral.

O mais novo movimento de Cássio, que provocou “euforia” no cenário político, foi à sugestão de convocação do Ministro da Justiça José Eduardo Cardozo (Justiça) a explicar, no Congresso, seus encontros com advogados de empreiteiras sob investigação na Operação Lava Jato.

Ecoando o ex-presidente do STF Joaquim Barbosa, que pregou a demissão de Cardozo, o senador Cássio Cunha Lima, disse que o gesto do ministro da Justiça foi “absolutamente incompatível com o exercício do cargo.” Para ele, há um “conflito de interesses.” E Dilma Rousseff “precisa dizer para quem governa: se é para o PT e seu projeto de poder ou se para o país.”.


INVESTIGAÇÕES PASSADAS

Sem temer os ruídos do passado, o líder paraibano foi mais além e, em Plenário, leu o editorial publicado na sexta-feira (13) no jornal O Estado de S. Paulo, intitulado “O PT no contra-ataque”.

O senador disse que o texto trata do mesmo assunto sobre o qual falou na tribuna do Senado: a necessidade de manter o foco nas investigações da Operação Lava-Jato sobre o desvio de dinheiro na Petrobras.

O editorial afirma que o PT está aplicando a tática de trazer os inimigos para “dentro do buraco” em que está caindo. Segundo o texto, o partido nem se dá ao trabalho de negar que membros importantes da legenda tiveram participação no escândalo da Petrobras e se empenha em demonstrar que a oposição também tem culpa.

— Que se investigue o Brasil desde a Coroa Portuguesa. Não há problema que se investigue da Coroa Portuguesa até a presente data. Mas que esse argumento não possa ser utilizado para impedir que as investigações que estão em curso sejam desviadas do seu foco, que é a atenção central do povo brasileiro, que não suporta mais tanta corrupção — afirmou Cássio, mesmo correndo o risco de virar alvo de mais artilharia.

Na avaliação do senador, o país está num clima de desesperança e de desencanto. Mas ele disse acreditar que o Brasil vai ganhar e crescer com a revelação de todos os acontecimentos investigados.

TELHADO DE VIDRO?


Com a sugestão de se investigar o passado, Cássio reascende o interesse de se resgatar antigas polêmicas da época em que foi prefeito de Campina Grande e também Governador da Paraíba, que pairam sobre a venda da CELB para a Energisa, a falência da Sudene, a distribuição dos cheques da FAC em época de campanha eleitoral, entre outros.

Já no início do mês de fevereiro desse ano, por exemplo, Cássio foi condenado por gastos excessivos com publicidade nas eleições de 2006, na qual foi candidato a Governador da Paraíba e vai ter que pagar multa de 100 mil Ufirs (equivalente a R$ 106.410,00). A decisão foi da ministra Maria Thereza de Assis Moura, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que negou seguimento a um recurso ordinário, interposto pelo tucano.

O caso foi julgado pelo Tribunal Regional Eleitoral em agosto de 2010. Na ocasião, a Corte decidiu, por maioria de votos, pela inelegibilidade por um prazo de três anos e o pagamento de multa de 100 mil Ufirs. “Comprovado o excesso de gastos com a massificação da publicidade institucional em ano de eleição, superando a média dos três últimos anos que antecedem o pleito, em percentual próximo de 40%, configurada está a prática de conduta vedada e abuso de autoridade, conduta grave a influenciar a legitimidade do pleito”, assinalou o acórdão do TRE-PB à época.

Com uma vitrine pouco segura, Cássio pode até ter boas intenções, mas também terá que rebolar para remendar os cacos caso seja atingido por mais um escândalo, cujos efeitos podem resvalar em 2018.


Márcia Dias

PB Agora

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